PARA O ATOR – MICHAEL CHEKHOV XXIV

CAPÍTULO 10 – COMO ABORDAR O PAPEL

Neste ponto, recomendo fortemente à sua atenção os princípios sugeridos por Stanislavski para a abordagem de um papel. Stanislavski chamou-lhes UNIDADES E OBJETIVOS, e encontramos descrições completas deles em seu livro A PREPARAÇÃO DO ATOR. Unidades e objetivos são, talvez, a sua mais brilhante invenção, e quando adequadamente entendidos e corretamente usados podem conduzir o ator imediatamente para o próprio cerne da peça e do papel, revelando-lhe sua construção e dando-lhe uma base firme sobre a qual interpretar sua personagem com plena confiança.

Em essência, Stanislavski disse que, para estudar a estrutura da peça e do papel, é necessário dividir uma e outro em unidades (ou seções). Aconselhou que se começasse com as grande unidades e só subdividir as grandes unidades, sem entrar em seus detalhes, e só subdividir as grande unidades em outras. Tamanho médio e pequenas se aquelas parecerem demasiado gerais.
Stanislavski disse anda que o objetivo é o que a personagem (não o ator) deseja, quer; é sua meta, seu propósito. Os objetivos seguem-se uns após outros em sucessão (ou poderão sobrepor-se parcialmente).

Todos os objetivos da personagem se fundem num objetivo global, formando uma “corrente lógica e coerente”. A esse objetivo principal, chama Stanislavski o SUPEROBJETIVO da personagem. Isso significa que todos os objetivos menores, seja qual for o seu número, devem servir a um único propósito: realizar o SUPEROBJETIVO (o principal desejo) da personagem.
Ainda mais adiante, disse Stanislavski: “Numa peça teatral, toda a corrente de objetivos menores, individuais (assim como o SUPEROBJETIVO da peça inteira, o qual é o LEITMOTIV da produção literária do autor, o pensamento dominante que inspirou sua obra”.
No intuito de denominar o objetivo, de fixá-lo em palavras, Stanislavski sugeriu a seguinte fórmula: “Eu quero ou o que desejo fazer isto ou aquilo…” e depois segue-se o verbo expressando o desejo, a meta da personagem. Eu quero persuadir, eu quero livrar-me de, eu desejo compreender, eu desejo dominar e assim por diante. Nunca use sentimentos e emoções enquanto estiver definindo seus objetivos – como quero AMAR ou DESEJO SENTIR-ME TRISTE – porque sentimentos ou emoções nao podem ser FEITOS. Ou você ama ou sentem-se triste, ou não. O verdadeiro objetivo baseia-se na sua vontade (da sua personagem). Sentimentos e emoções, naturalmente, acompanham seus objetivos, mas eles próprios não podem ser convertidos num objetivo. Assim, temos que lidar com um certo número de objetivos menores, assim como com os SUPEROBJETIVO de cada papel individual, por um lado, e com o SUPEROBJETIVO da peça inteira, por outro.
(…)
(Mas tendo sempre presente a advertência de Stanislavski: “Quanto maiores a quanto menos numerosas as divisões, com menos terá você de lidar e mais fácil lhe será dominar o papel todo”).

 

RESUMO DO LIVRO “PARA O ATOR” DE MICHAEL CHEKHOV
MAYTÊ PIRAGIBE PRODUÇÃO DE ARTE

Postado por:

Maytê Piragibe