PARA O ATOR – MICHAEL CHEKHOV XXIII

CAPÍTULO 10 – COMO ABORDAR O PAPEL

Depois de todos os nossos estudos, adquirimos somente aquilo que pomos em prática. GOETHE

Assim, logo que você receba o papel, comece lendo a peça várias vezes, até estar inteiramente familiarizado com ele como um todo. Depois, concentre-se somente em sua personagem, imaginando-a primeiro cena após cena. Em seguida, demore-se nos momentos (situações, frases, diálogos) que mais atraem sua atenção. Continue fazendo isso até “ver” a vida interior da personagem, assim como a sua aparência exterior. Espere até que ela desperte os seus próprios sentimentos. Tente “ouvir’ a personagem falar. Você pode ver a sua personagem tal como foi descrita pelo autor ou poderá também ver-se a si mesmo desempenhando a personagem já caracterizada. Ambas as maneira são corretas.
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A sua intuição artística lhe dirá quando esse trabalho com a imaginação cumpriu seu propósito de ajuda-lo a estabelecer a personagem. Poderá então ser posto de lado. Não se apóie exclusivamente nele por tempo demais, como se fosse esse o seu único esteio para abordar um papel. Pode usar mais de um meio simultaneamente.
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Stanislavski costumava dizer que é uma boa coisa um ator poder “apaixonar-se” pela sua personagem antes de começar a trabalhá-la. Em meu entender, em numerosos casos, ele quis dizer apaixonar-se mais pelas atmosferas que envolvem a personages. Muitas produções no Teatro de Arte de Moscou foram concebidas e interpretadas através de atmosferas, por meio das quais os diretores e atores “se apaixonam” tanto por personagens individuais quanto pela peca toda. (pecas de Chekhov, Ibsen, Gorki e Maeterlinck, densas atmosfera, sempre forneceram aos membros do Teatro e Arte de Moscou tais oportunidades para prodigalizarem suas afeições.)
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Releia todo o seu papel e tente definir que sentimentos gerais (ou sensações de sentimentos) as outras personagens despertam na sua. Fazem-no sentir-se cordial, indiferente, frio, desconfiado, confiante, entusiasmático, hostil, tímido, covarde, circunspecto ou o quê? E que desejos engendram no íntimo de sua personagem. Incutem-lhe o impulso de dominar, submeter-se, vingar-se, atrair, seduzir, fazer amigos, ofender, agradar, assustar, acariciar, protestar – qual deles? E não esqueça exemplos, ao longo da peça, em que a sua personagem também muda sua atitude em relação à mesma pessoa. Descobrirá freqüentemente que o principal Gesto Psicológico que expressa a sua personagem como um todo necessitará apenas de uma ligeira alteração para incorporar a sua atitude geral em relação às outras personagens. A aplicação do GP permite a oportunidade ímpar de pintar seu papel de várias cores, tornando assim o seu desempenho rico em tonalidades e fascinante de observar.
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RESUMO DO LIVRO “PARA O ATOR” DE MICHAEL CHEKHOV

Postado por:

Maytê Piragibe