PARA O ATOR – MICHAEL CHEKHOV XXI

CAPÍTULO 9 – DIFERENTES TIPOS DE DESEMPENHO

Assim, vemos que o ritmo rápido é ainda outra condição requerida pela comédia, e também este ponto precisa ser elucidado. O ritmo rápido, se for uniforme, torna-se inevitavelmente monótono. O espectador tem a atenção entorpecida e, alguns momentos depois, começa a ter a impressão de que o ritmo da performance está ficando cada vez mais lento; como resultado disso, o espectador perde involuntariamente seu interesse nos atores e fica escutando apenas os diálogos.  Para evitar esse desagradável efeito, essa diminuição do significado do ator no palco, o intérprete deve, de tempos em tempos, abrandar subitamente seu ritmo, nem que seja apenas por uma frase ou movimento, ou introduzir ocasionalmente uma curta mas expressiva pausa. Esses meios de quebrar a monotonia de uma performance em ritmo rápido agirão instintivamente sobre a atenção do espectador, como pequenos mas agradáveis choques. O espectador, assim reanimado, estará de novo apto a deleitar-se com o ritmo vivo da performance e, por consequência , a apreciar melhor o talento e a habilidade do ator.
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Tenha também em mente a importante diferença que existe entre  um cômico e um palhaço, um clown. Enquanto a personagem de comédia sempre reage naturalmente, por assim dizer, não importa até que ponto a personagem e a situação possam ser peculiares, ela ainda tem medo das coisas quando estas são assustadoras, ainda se indigna quando a situação requer tal emoção, e é sempre obediente à motivação. Suas transições de um estado psicológico para o outro são sempre justificáveis. Mas a coisa e’ muito diferente com a psicologia de um bom palhaço. Suas reações a uma circunstância em seu meio circundante são completamente injustificadas, “absurdas” e inesperadas: ele poderá mostrar-se  apavorado com coisas que nao dão a mínima causa para medo; poderá chorar quando esperássemos que risse ou ignorar profundamente um perigo que põe em sério risco. Suas transições de uma emoção para outra não requerem qualquer justificativa psicológica.

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Maytê Piragibe