PARAR DE ATUAR VIII – HAROLD GUSKIN

Harold me ensinou que , durante os ensaios, você tem de se permitir ser bobo. Você não deve se julgar. Tem que deixar o bom gosto de lado. 

KEVIN KLINE

4. Durante os ensaios e em temporada:

EM ENSAIOS

“Quanto mais cuidadosos formos no ensaio, menos repertório nossas personagens terão durante a temporada. (…) Um ator deve explorar a personagem pedaço por pedaço, momento por momento, durante os ensaios. Ele descobre o que funciona ou o que não funciona, ainda não se prende a nada e fica livre para continuar a exploração durante a temporada. Se o ator errou completamente lá atrás, no início dos ensaios, a exploração será mais completa ainda. (…) A função do diretor é colocar a peça em pé durante os ensaios, de uma forma coesa, que conte a história com muita clareza e ritmo. A função do ator é fazer de cada momento crível, interessante e instigaste. Acho que o trabalho do ator é explodir o momento. O trabalho do diretor é continuar os momentos. Podemos ver a potência desse conflito. É um conflito necessário para a peça ser interessante e agradável ao público. (…)

SEJA CORAJOSO

Nos ensaios. o ator deve desistir de atuar desde o princípio. Ele deve ter a coragem de ser simples, de só falar as falas como ele sente, sem colocar nada extra – nenhuma fala com maravilhosa projeção, nenhum movimento gracioso, nenhuma dramaticidade para preencher a personagem.

VÁ DEVAGAR

Se tudo está indo muito rápido no ensaio, o ator vai precisar trabalhar por conta própria, raleando tudo. À noite, tire lentamente suas frases da página. não se preocupe em decorar – como já falamos, vai acontecer naturalmente. Respire, pense, sinta – deixe sua intuição e imaginação emergirem. Mesmo que você esteja sendo pressionado para ir mais rápido no ensaio, não vai se sentir tão forçado se conseguir encontrar um espaço para si mesmo em sua própria peça.

DESISTA DO SEU EGO

No ensaio, desista do seu ego. Preserve- o para o seu cuidado pessoal e para fortalecer a fé que você deve ter no seu talento e na sua personalidade para fazer um trabalho. Isso vai permitir que você persevere quando tudo parece sombrio. Durante os ensaios, não leve nada – que está acontecendo, quando se está atuando – para o pessoal. Compreenda que todo mundo está dando o seu melhor. Ninguém quer machucar você. Pode até haver momentos de muita tensão. Se não levar para o lado pess

oal, vai ser melhor para você. Para mim, tudo que acontece em cena, é atuação. Meus sentimentos são verdadeiros. O que eu vejo, eu vejo, e a frase que eu falo é o que eu quero dizer. Mas, quando não estamos mais ensaiando, eu me desapego de tudo. Ou, pelo menos, eu tento.

TRABALHO COM A DIREÇÃO

Bons diretores gostam de ser surpreendidos pelos atores. Ve

nha para um bom diretor com a proposta de fazer o que vier na sua cabeça e ele o ajudará a aperfeiçoar a personagem. Mas às vezes não temos muita sorte com o diretor. Diretores de teatro podem ser ansiosos. Eles podem ir muito rápido na montagem da peça, bloqueando o movimento dos atores no começo dos ensaios e forçando – os a esco

lher antes de qualquer exploração do texto e antes mesmo de existir uma personagem. ou podem pedir para os atores memorizarem as suas falas muito cedo e insistir na rapidez de fluência e ritmo, buscando o resultado muito mais cedo do que realmente é possível alcançar. Essa forma de direção não leva a uma encenação homogênea. Leva a uma atuação controlada, impessoal e técnica. Dá a todos os atores o mesmo tempo apressado e o mesmo ritmo, tirando a possibilidade de encontrar a individualidade de cada personagem. O pior de tudo, na minha opinião, é que ela tira a alegria da exploração do ensaio, que é a minha parte favorita do nosso trabalho de ator.

Cada ator deve achar uma estratégia pessoal para lidar com uma direção ruim. Em geral, aconselho aos atores não ficarem agressivos ou zangados. Isso só leva a um conflito. Se você coloca o diretor contra a parede, ele vai morder você! Mas se você dá espaço para ele, então qualquer coisa é possível. Acredito na desistência do ego, não do nosso trabalho. Por isso, não discuto nos ensaios. Eu escuto. Vou para onde me mandam, sempre concordo. Mas concordar hoje com uma direção não significa que vou fazer a mesma coisa amanhã.(…) Começo a fazer o que o diretor pediu e, se ficar desconfortável ou sentir que está errado, admito que o problema é meu, quer seja ou não. Mas quero que o diretor veja que estou tendoproblemas. Não estou tentando ser um problema.

EM CARTAZ

Estar no palco em frente de uma platéia parece ser um lugar assustador, mas a pior coisa que um ator pode fazer é tentar se proteger, tentar ficar seguro. Não é que ele não vá sentir medo. Ele terá medo. Mas quando ele ataca o medo, também ataca o intelecto, sobrando só sua intuição em que se apoiar. Se um ator é realmente um ator, ele renderá melhor quando estiver à beira do precipício.

EXPLORANDO E REPETINDO – REPRISE

Se se sentir obrigado a fazer o que tem que fazer, não haverá surpresa para si mesmo, consequentemente, nenhuma surpresa para a platéia também. Você precisa arrastar a liberdade do ensaio para o espetáculo.

Na atuação o interessante é a viagem, e não o destino. Atuar é a viagem!”

RESUMO DO LIVRO PARAR DE ATUAR DE HAROLD GUSKIN

Postado por:

Maytê Piragibe