3. Eu quero este papel. Como faço para consegui-lo?
FAÇA UMA COISA DE CADA VEZ:
Se você está lendo, não pode falar. Se você está falando ou ouvindo, não deveria ler. Você não pode acessar uma gama completa de reações, se parte de sua mente está lendo e sua boca está se movendo, ou enquanto o outro ator ou o produtor de elenco está falando com você. Quando estou preparando um ator para um teste, sento do outro lado da sala, tirando as falas da página, da mesma forma que peço para o ator também tirar as falas da página. Quando o ator está dizendo a sua fala, olho para ele e ouço. Vou saber quando tiver uma fala. O ator vai parar de falar ou algo vai me fazer olhar para baixo.
Ainda mais importante, não me importo com minha próxima fala. Dar uma olhadinha para ela enquanto o ator está falando só me leva para longe dos sentimentos e intuição. Eu preciso ouvir ou não terei nenhuma resposta verdadeira. Deixo minha reação à fala do ator me levar onde quer que seja. Nunca sei para onde estou indo e não me importo. Então olho para baixo e tiro a minha fala. Minha resposta pode me levar a algum lugar inesperado. Deixo isso acontecer porque é interessante para mim, para o ator na minha frente e em um teste, para aqueles que nos assistem. Porque isso é surpreendente. E minha resposta é real. Sendo assim, enquanto o produtor de elenco está lendo, não leia a fala dele ou a sua. Apenas ouça. Quando ele parar de falar – somente quando ele parar de falar – olhe para baixo e veja a sua fala. Então olhe para frente e fale. Sinta-se livre para deixar sair do jeito que for. (…) Não consegui o papel. Mas o diretor ficou interessado em mim e, por isso, estava curioso sobre quem eu era, de onde eu vinha, com quem tinha estudado. Isso é tudo que podemos esperar de um teste – o interesse do observador por nós. Dessa forma, eles não nos esquecem. (…)
E pense nisso: quando você está ouvindo a réplica, o que eles estão observando é você. Quando você está falando, o que eles estão observando também é você, e não um ator com a cabeça enterrada no texto, lendo, esperando a deixa, tentando acertar o tom da próxima fala – em outras palavras, oferecendo uma leitura para a fala. Por mais que esse ator se esforce, ele não dará uma resposta verdadeira. Por quê? Porque ele não estava ouvindo. Ele estava preocupado em não dar pausas. Isso é inútil para quem está observando. Não diz nada sobre o ator.
ATAQUE SEM MEDO
O medo é um grande tema em interpretação. Ele está sempre conosco, não importa o quão experiente nós somos. No início de nossas carreiras, temos medo de não sermos talentosos, profissionais, interessantes, ou sermos simplesmente ruins. Mais tarde, vem o medo de decepcionar os outros de não sermos merecedores do nosso sucesso. Mas não há mais nada assustador que um teste para um papel. Afinal, todo mundo tem medo de falar na frente de estranhos, especialmente estranhos que estão nos julgando.
Infelizmente, o medo é um sentimento que não podemos usar quando atuamos porque nos incapacita. O medo enfraquece o ator, minando sua confiança em si mesmo e em sua intuição. O medo o impede de arriscar, de parecer idiota e de falhar. O fracasso não é o que nós pensamos – não conseguir o papel. Falhar é ser chato! Assim, maquiar o medo escondendo-se atrás de preparação ou técnica não faz sentido em atuação. Qaundo estamos atuando, já estamos em lugar exposto. (…) Se você for para um teste muito preparado, com todo o tipo de opções, você terá de realizar todas as suas escolhas. Na atmosfera tensa de um teste essa obrigação aumentará seu medo e matará tanto a sua intuição quanto suas emoções.
A melhor maneira de lidar com seu medo é atacá-lo. Por exemplo, se quando entrar na sala do teste o seu medo dominá-lo, faça uma longa pausa logo no início. Não diga sua fala. Deixe o silêncio fazer o produtor e qualquer outra pessoa na sala olhar para cima e parar o que estiver fazendo. Em seguida, tome fôlego e começe. (…) O que você teme, precisa ser atacado no momento que percebê-lo. Não o faça com receios. Após o ataque, inspire e expire. Em seguida, vá para outro lugar – qualquer outro lugar- para que você não fique preso ali, onde está. Vá para a escolha oposta ou para qualquer outra escolha diferente. Não importa se você está certo ou errado, se a escolha é inteligente ou estúpida. O que importa é que isso vai livrá-lo de seu medo. Você será livre e se fortalecerá.
Você não pode atuar quando estiver se sentindo fraco. Você realmente não pode fazer nada quando está se sentindo fraco. Você perde o poder de atuação – de ação.
ASSUMA O CONTROLE DO TESTE:
(…) Mas no começo, certamente não sabemos como deve ser. E pode ser assim até o final. Se confiarmos na exploração do texto, então revelaremos ao diretor quem somos em relação a esse material. Se estamos atuando, revelamos apenas a nossa “idéia” sobre a personagem. O diretor pode não ver o ator por trás da atuação. (…) Obviamente, não importa quão bom você é em um teste, você ainda pode não conseguir o papel. Lembre-se, um bom diretor não vai te escolher se ele não precisar de você, mesmo que o considere um ótimo ator. O diretor tem uma visão do trabalho e suas necessidades devem ser satisfeitas com a escolha certa para ele. Não tem nada a ver conosco, os atores. Às vezes, podemos surpreender um diretor ao revelar lados de nós mesmos que não sabíamos possuir, ou empolgá-lo com uma visão da personagem na qual ele não pensou que fosse possível. Mas tudo o que podemos fazer é dar o nosso melhor e deixar às pessoas que nos escolhem fazer o mesmo. (…) Esteja preparado!
RESUMO DO LIVRO PARAR DE ATUAR DE HAROLD GUSKIN