PARA O ATOR – MICHAEL CHEKHOV VIV

CAPÍTULO 7 – INDIVIDUALIDADE CRIATIVA

“Além disso, todos os sentimentos derivados pela personagem da nossa individualidade não são só purificados e impessoais como têm dois outros atributos. Por mais profundos e persuasivos que sejam, esses sentimentos ainda não são tão “irreais” quanto a “alma” da própria personagem. Chegam e desaparecem com a inspiração. Caso contrário, tornar-se-iam nossos para sempre, indelevelmente impressos em nós depois que a performance terminou. Penetrariam em nossa vida cotidiana, seriam envenenados pelo egoísmo e converter-se-iam em parte inseparável de nossa existência inartística, não-criativa. O ator deixaria de ser capaz de traçar uma linha divisória entre a vida ilusória de sua personagem e sua própria vida. Não demoraria muito a enlouquecer. Se os sentimentos criativos não fossem “irreais”, o ator seria capaz de sentir satisfação no desempenho do papel de vilão ou de outros personagens indesejáveis.

Nesse ponto, é possível perceber o equívoco, tão perigoso quanto não artístico, cometido por alguns atores conscienciosos quanto tentam aplicar seus sentimentos reais, cotidianos no palco, extraindo-os de si mesmos.  Mais cedo ou mais tarde, tais tentativas redudam em fenômenos mórbidos, histéricos; em especial, conflitos emocionais e colapsos nervosos para o ator. Os sentimentos reais excluem a inspiração e vice-versa. O outro atributo dos sentimentos criativos é que eles são compassivos. O eu superior do ator dota a personagem com sentimentos criativos; e como é capaz, ao mesmo tempo, de observar a sua criação, sente compaixão por suas personagens e pelos destinos delas. Assim, o verdadeiro artista existente no ator é capaz de sofrer por Hamlet, chorar com Julieta, rir das travessuras engendradas por Falstaff.”
RESUMO DO LIVRO “PARA O ATOR”DE MICHAEL CHEKHOV

Postado por:

Maytê Piragibe