PARA O ATOR – MICHAEL CHEKHOV II

“A criação não se inspira naquilo que é, mas no que pode ser; não no real, mas no possível.” RUDOLF STEINER

Crédito da foto: André Nicolau

CAPÍTULO 2 – IMAGINAÇÃO E INCORPORAÇÃO DE IMAGENS:

“Você orienta e constrói sua personagem fazendo novas perguntas, ordenando-lhe que mostre diferentes variações de possíveis modos de atuar, de acordo com seu gosto (ou com a interpretação dada à personagem pelo diretor). A imagem muda sob o seu olhar indagador, transforma-se repetidas vezes, até que, gradualmente (ou subitamente), você se sente satisfeito com ela. A partir desse instante, sentirá suas emoções estimuladas e o desejo de interpretar o papel acende-se em você! (…)

O raciocínio seco mata a imaginação. Quanto mais você sondar e aprofundar sua mente analítica, mais silenciosos se tornarão os seus sentimentos, mais fraca a sua vontade e mais pobres as oportunidades propiciadas à inspiração. (…)

Quanto mais desenvolvida é a sua imaginação, através de exercícios sistemáticos, mais flexível e ágil ela se torna.. As imagens sucedem-se com rapidez crescente: forma-se-ão e desaparecerão depressa demais, em fugaz seqüência. Disso pode resultar que você as perca antes de elas poderem despertar seus sentimentos. Você deve possuir suficiente força de vontade, mais do que normalmente exerce nas atividades cotidianas, para conservá-las diante dos olhos da mente por tempo suficiente para que elas afetem e despertem seus próprios sentimentos. (…) Por que devo dar-me o laborioso esforço de desenvolver a minha imaginação e aplicá-la ao trabalho em peças modernas, naturalistas, quando todas as personagens são tão óbvias e fáceis de entender; quando as falas e situações fornecidas pelo autor cuidaram de tudo? Se essa é a sua pergunta, permita-me discordar. O que o autor lhe entregou , na forma de uma peca escrita, é a criação dele, não a sua; ele aplicou o talento dele, não o seu. Mas qual é a sua contribuição para a obra do autor? Em meu entender, é, ou deve ser, a descoberta da profundidade psicológica da personagem que lhe é dada na peça. Não existe um ser humano que seja óbvio e fácil de compreender. O verdadeiro ator não deslizará pela superfície das personagens que interpreta nem lhes imporá  seus maneirismos pessoais e invariáveis. Sei perfeitamente bem ser esse o costume largamente reconhecido e praticado, hoje em em dia, em nossa profissão. A personagem que irá interpretar no palco, você poderá, para começar, escolher apenas uma característica dentre todas as que se apresentam à sua visão interior. Assim fazendo, você nunca conhecerá o choque (que os atores conhecem bem demais!) resultante da tentativa de incorporar a imagem toda de uma só vez, num ávido trago. É esse choque sufocante que freqüentemente força um ator a abandonar os esforços imaginativos e a cair em clichês e velhos e cediços hábitos teatrais. Você sabe que o seu corpo, voz e toda a compleição psicológica nem sempre são capazes de ajustar-se  em curto prazo à sua visão. Trabalhar a imagem pouco a pouco evitará essa dificuldade. Habilita seus meios de expressão a processarem tranqüilamente a necessária transformação e a se prepararem para anuir às expectativas tarefas que terão que cumprir. Você estará mais apto a incorporar a personagem inteira em que está trabalhando se o fizer gradualmente. Acontece às vezes que, depois de apenas meia dúzia de tentativas de incorporar suas características separadas, a personagem dá subitamente um salto à frente e incorpora-se como um todo. (…)

No processo de incorporação de imagens fortes e bem elaboradas, você molda seu corpo desde dentro, por assim dizer, e impregna-o literalmente de sentimentos, emoções e impulsos volitivos artísticos. Assim, o corpo torna-se cada vez mais a “membrana sensível”previamente descrita.

Quanto mais tempo e esforço você dedicar ao trabalho consciente para desenvolver a força da sua imaginação e à técnica de incorporação de imagens, mais cedo a sua imaginação o servirá subconscientemente, sem que você note sequer que ela está funcionando. Suas personagens crescerão e desenvolver-se-ão por si mesmas enquanto, aparentemente, você não está pensando nelas ou enquanto está dormindo sem sonhos à noite, ou mesmo em seus sonhos. Também notará que centelhas de inspiração o atingem cada vez mais freqüentemente e com maior precisão. (…)

1. Capte a primeira imagem.

2. Aprenda a seguir a vida independente dessa imagem.

3. Colabore com ela, fazendo perguntas e dando ordens.

4. Penetre na vida interior da imagem.

5. Desenvolva a flexibilidade da sua imaginação.

6. Tente criar personagens inteiramente por si mesmo.

7. Estude a técnica de incorporação de personagens.”

RESUMO DO LIVRO “PARA O ATOR” DE MICHAEL CHEKHOV

Postado por:

Maytê Piragibe