Ainda menina, quando tinha somente 9 anos, já havia 5 anos que trabalhava como atriz. Foi um processo natural que nasci pedindo para atuar. Nasci fadada à ser ou não ser. E todas as questões profundas do ser artista. Desde os 4 aninhos, todas as artes eram o que mais encantavam e faziam meus olhos brilharem feitos diamantes. A dança contemporânea desabrochou a minha paixão pelo movimento e o milagre de descobrir o poder de tudo criar. Esse misterioso universo da criatividade, me abasteceu todos esses anos e confesso que o processo sempre foi intenso na entrega. Mas como todas as novas fases chegam, tem momentos que há uma vontade, ou melhor, uma necessidade de se reinventar.
E a luz que renasce, me obriga à olhar e voltar para a minha raiz.
A estrada que estamos acostumados e que planejamos toda a nossa ilusória segurança, às vezes rompe, como num passe de mágica. O desespero e a angústia são os primeiros sintomas mas eis que a mãe Terra e nossas memórias mais sublimes, nos fazem viajar às nossas libertadoras raízes. Bendita criação, bem-vinda todas as lembranças que transcendem o controle da vida.
Normalmente a infância, tem esse poder de resgatar as melhores sensações que são libertadoras. Onde o controle e o medo do futuro, nunca existiram. O frescor da criança que só reage ao presente, ao que de fato acontece aqui e agora. Porque nem ela entende se hoje foi ontem ou se já é amanhã.
E o que acontece quando crescemos, quando os planos mudam e a vida recria do zero? Da partitura limpa de uma nova música que se cria, dá aquele desespero, uma vontade louca de ficar sozinha e ver nascer as primeiras novas linhas.
É necessário ter coragem para lidar com o vazio de frente.
Sem medo de ousar, sem medo de ser feliz.
A maternidade resgata esse lugar mágico e libertador. Onde nos transformamos em bela e fera, num piscar de olhos. A mãe leoa que cria, luta pela sobrevivência e aquela que é carinhosa, afaga, cuida, protege e bota no peito. Que dança. Que gira. Vira ao avesso e agarra a mão da menina. Da criança interna e da que gera.
Daquela que cresce como um espelho de luz e vida. A minha menina me liberta e cria junto comigo, a nova música que estou aprendendo a dançar.
Profundos e intensos sentimentos que nunca quis reprimir, já que a lágrima da angústia ou a gargalhada que contagia, são como o sol e a lua que equilibra a mãe Terra e concretizam a nossa existência.
Ser ou não ser, sofrer ou não sofrer – já não são questões. Mas desafios diários da libertadora coragem, de se reconectar com o que nos faz bem de verdade.
Beijos