CAPÍTULO 3: IMPROVISAÇÃO E CONJUNTO
“Se um ator se limita meramente a declamar as falas fornecidas pelo autor e a executar o “negócio” ordenado pelo diretor, não procurando qualquer oportunidade para improvisar independentemente, ele se torna um escravo das criações de outros e sua profissão lhe foi simplesmente emprestada. É um erro ele acreditar que o autor e o diretor já improvisaram para ele e que sobra muito pouco espaço para a livre expressão de sua própria individualidade criativa. Essa atitude, lamentavelmente, predomina entre grande número de nossos atores atuais.
Entretanto, cada papel fornece a um ator a oportunidade de improvisação, de colaboração e, na verdade, de co-criação com o autor e diretor. Esta sugestão não implica, é claro, improvisar novas falas ou substituir por outros os objetivos estabelecidos pelo diretor. Pelo contrário. As falas confiadas a um papel e as instruções e orientações do diretor constituem as bases firmes em cima das quais o ator deve e pode desenvolver suas improvisações. Como ele declama suas fala e como cumpre as instruções são as portas abertas para um vasto campo de improvisação. Os “como”de suas falas e instruções são os caminhos através dos quais ele pode expressar-se livremente. Mais do que isso, existem outros e inúmeros momentos entre as falas e as orientações em que o ator pode criar maravilhosas transições psicológicas e adornar e ampliar por conta própria o seu desempenho, em que pode exibir seu verdadeiro engenho artístico. Sua interpretação da personagem como um todo, até as ínfimas características, oferece um vasto campo para suas improvisações. Ele precisa apenas começar por recusar a representar-se a si mesmo em vez de representar uma personagem, ou por rejeitar o recurso a clichês cediços.
Se ele simplesmente deixar de considerar todos os seus papéis como “lineares” e tentar descobrir alguma boa caracterização para cada um deles, também terá dado um passo gratificante no sentido da improvisação. O ator que não sentiu a pura alegria de se transformar no palco a cada novo papel que interpreta, dificilmente pode conhecer o significado real e criativo da improvisação. (…) Porque a real e verdadeira liberdade na improvisação deve basear-se sempre na necessidade; caso contrário, não tardará a degenerar em arbitrariedade ou indecisão.
Ao concluir este capítulo, faz-se necessário acrescentar uma palavra de advertência. Se, enquanto improvisa, você começa a sentir que está ficando insincero ou afetado, pode ter a certeza de que isso resulta da interferência da sua “lógica” ou do uso excessivo de palavras desnecessárias. Deve ter a coragem de confiar completamente em seu espírito improvisador. Siga a sucessão a sucessão psicológica de eventos anteriores (sentimentos, emoções, desejos e outros impulsos) que lhe falam desde as profundezas de sua individualidade criativa, e não tardará em convencer-se de que essa “voz interior” que possui nunca mente.”
RESUMO DO LIVRO “PARA O ATOR” DE MICHAEL CHEKHOV