PARAR DE ATUAR VI – HAROLD GUSKIN

3. Eu quero este papel. Como faço para consegui-lo?

“Eu sempre senti que se eu entrar lá e fizer o que realmente sinto, que é o meu melhor, não me importo se sou escolhida ou não, porque simplesmente não sou exatamente quem eles estão procurando. Mas se eu fizer o teste e por alguma razão não der o meu melhor, isso me machuca.”

GLENN CLOSE

(Art Polka Rain Art Print by Karen Hofstetter)

Quando GLENN conseguiu se acalmar, começamos a trabalhar. Disse para ela aproveitar seu tempo para tirar da página. “Só isso”, diz ela, “foi fundamental”. Foi uma maneira de evitar deixá-la em “uma situação aterrorizante, na qual você não consegue respirar, nem estar consciente do mundo ao seu redor”. Percorremos o texto inteiro, frase por frase, pensamento por pensamento, imagem por imagem, durante várias horas naquela noite. Seu trabalho começou a ter uma calma e uma liberdade que antes não existiam. Suas emoções vieram à tona. As falas estavam afetando-a de maneira muito sutil e pessoal. Ela estava realmente começando a encontrar a personagem escondida dentro dela – uma personagem cuja verdadeira identidade como mulher não foi descoberta até a sua morte. Mas este foi apenas o começo do trabalho em cima da personagem. O que fazer sobre o teste no dia seguinte? Eu dise: “Faça a mesma coisa. Tire da página para eles. Não se preocupe com o que sair. Não precisa ser a mesma coisa que aconteceu esta noite. As falas e as imagens podem afetá-la de maneira diferente amanhã. Deixe ir para onde tiver de ir. O mais importante é voc6e explorar, bem na frente deles, sem ligar se suas respostas estão certas ou erradas. Tire da cabeça atuar para eles. Deixe-os ver como você trabalha, o que te excita. Assim, eles terão vislumbres da sua verdadeira resposta a esta personagem e irão precisar do que você tem a oferecer.

(Art by Jason Brooks entitled Lipstick for Vogue’s Art in Fashion)

“Você entra calmamente com um plano, que é: vou ver o que posso fazer. De repente, você está lá fazendo, só que à sua própria maneira. Foi a partir desse momento que eu fui capaz de ir aos testes e dizer: “Quer saber? Eu só vou colocar para fora algumas idéias”, em vez de dizer: “Esta é a minha personagem.”

GLENN CLOSE

IGNORE A DESCRIÇÃO DA PERSONAGEM

A parte mais difícil no teste é sentir-se livre o suficiente a ponto de não se importar para onde você está indo com a personagem ou cena, de modo que aqueles que o observam fazendo o teste tenham a chance de vê-lo explorando, bem na frente deles. A exploração é mais cativante, reveladora e útil que qualquer outra coisa que você possa fazer. Mas o ator muitas vezes é o seu pior inimigo no teste por respeitar demais a descrição do produtor de elenco: o que ele pensa, o que ele quer, a idéia que ele está procurando, além do próprio conceito do ator sobre como a personagem deve ser. Não busque escolhas certas. Faça o que lhe interessa e o que você realmente acredita naquele momento, porque isso é o melhor que você tem a oferecer. Um teste é sobre como deixá-los ver quem você é, como você trabalha e como o material o afeta.

O teste deve ser tanto para você quanto para eles.

PREPARE-SE PARA TESTES TIRANDO DA PÁGINA AS FALAS DE OUTRAS PERSONAGENS:

Na verdade, fique mais tempo nas falas das outras personagens. Faca delas suas palavras. Em vez de supervalorizar suas próprias falas, trabalhar assim nos obriga a ouvir e estar presente atuando ou fazendo um teste. Ao tirar a atenção de si mesmo e de como você vai dizer sua próxima fala, você está colocando o foco no outro e, o mais importante, no que ele está falando para você. Como a fala surge em seguida, é uma surpresa. Esse é o começo de uma verdadeira liberdade de atuação.

(Art by LEIGHVINER)

VISTA-SE PARA SENTIR A PERSONAGEM, NÃO PARA PARECER COM ELA:

Deixe a personagem dizer o que vestir ou não vestir. Vista-se para si mesmo, não para o público. Se você acha que deve ser “sexy”, vista-se para sentir-se sexy, não para parecer sexy. Confie em sua intuição.

NÃO SE ESFORCE PARA FICAR EM UM ESTADO EMOCIONAL:

Não é raro entrar para fazer um teste e ver atores que não falam nem olham para ninguém. Eles trabalharam duro para atingir o que acham ser o estado emocional necessário para o teste e estão desesperadamente tangendo mantê-lo, enquanto passam o texto diversas vezes na cabeça. Isso não é uma boa idéia porque, quando o ator entra para o teste, ele pode ter de esperar muito tempo até que tenha a chance de ser visto. Enquanto o ator espera, sua concentração vai esvaindo. Quando ele finalmente, é chamado, não será capaz de ouvir e reagir, por medo de perder o que resta de sua energia. Trabalhando para manter uma emoção, ele perde a verdade do momento. Não trabalhe para atingir um estado emocional, porque, no final, a emoção será forçada demais. Confie em si mesmo e fique no momento presente. Como Glenn Close diz tão perfeitamente: “Isso é basicamente a coisa mais forte que você pode mostrar: que você ouve, você reage e você mostra que há algo acontecendo entre suas orelhas.”

DÊ A ELES MUITAS POSSIBILIDADES:

A chave para um teste é separar-se da multidão – dar aos observadores muitas possibilidades, em vez de tentar agradar ao diretor, adivinhando o que ele quer. Lembre-se: o ator que só preocupa em estar livre e disponível para suas reações é o ator que vai ser visto. Diretores gostam de dirigir. Eles estão mais que preparados para oferecer uma direção se você é interessante, mesmo se você está fazendo uma escolha diferente da que eles querem. Mas você não será interessante se não estiver livre. Se o diretor sugere algo, tente fazer. Mas também continue explorando os lugares que são novos para você. Você tem de ir para um monte de lugares, se quiser encontrar o melhor lugar. Todavia, mesmo se apenas uma das escolhas que você fez funcionar, o diretor vai perceber e é disso que ele vai se lembrar. (…) Apenas lembre-se: exploração é igual a liberdade. Portanto, não tente agradá-lo.

RESUMO DO LIVRO PARAR DE ATUAR DE HAROLD GUSKIN

Postado por:

Maytê Piragibe