Por mais fielmente que um ator ou diretor leia uma peça, é ainda a sua própria interpretação do que o autor pretendeu dizer. E, seja qual for a intenção do autor, o que o público interpreta de sua peça é o que constitui o superobjetivo decisivo. A psicologia do público difere profundamente da do ator ou diretor, ou mesmo da do próprio autor. É mais do que uma coincidência o fato de sermos freqüentemente surpreendidos pelas reações dos espectadores na noite da estréia. Por quê? Porque o público como um todo sente a peça com o coração, não com o cérebro; porque ele não pode ser desencaminhado pelos pontos de vista pessoais do diretor, ator ou autor; porque a sua reação na estréia é imediata, livre de quaisquer tendências e incondicionada por influências exteriores; porque o público não analisa, mas vivencia; porque nunca permanece indiferente ao valor ético da peça (mesmo quando o próprio autor pretende manter-se imparcial); porque nunca se perde em detalhes ou evasões, mas capta intuitivamente e saboreia a própria essência da peça. Todas essas razões do público potencial nos darão uma garantia mais idônea, mais confiável, de que o pensamento dominante, a principal idéia do autor, ou o que chamamos o superobejtivo da peça inteira, serão encontrados como um resultado psicológico no grande e imparcial “coração” do público.(…)
“PORQUE EU NUNCA DIRIJO SEM IMAGINAR UM PÚBLICO ASSISTINDO AOS MEUS ENSAIOS. PREVEJO AS REAÇÕES DELE E OBEDEÇO ÀS SUAS “SUGESTÕES”; E TENTO IMAGINAR UMA ESPÉCIE DE PÚBLICO “IDEAL” A FIM DE EVITAR AS TENTAÇÕES DE INSIPIDEZ.” Vachtangov (Diretor Russo)
Mas nunca tente discernir qualquer objetivo com sua mente racional. Esta pode deixá-lo frio. É possível que o conheça, mas não o deseje ou não o queira. Poderá permanecer em sua mente como uma manchete, sem instigar a sua vontade. O objetivo deve ter suas raízes no ser todo, e não na cabeça apenas. Suas emoções, sua vontade e até seu corpo devem estar inteiramente “cheios”com o objetivo.